sábado, 4 de dezembro de 2010

CONTO DE NATAL " A BONECA DE MARIA" I

FELIZ NATAL

Queridos leitores:
Resolvi transcrever aqui um dos vários contos inscritos por mim com a simplicidade que sempre coloquei em todos os meus trabalhos. Pois não sou escritora nem poeta simplesmente gosto de escrever no papel aquilo que me vai na alma.
Este Conto de Natal “A Boneca de Maria” inscrito em 2001 retrata um pouco de como era o natal da minha infância, do qual sinto muitas saudades, apesar de não ter tido as comunidades e bem estar dos dias de hoje, no entanto era mais puro, mais autêntico e mais mágico.
O natal dos dias de hoje nada tem a ver com a magia de antigamente, do verdadeiro sentido do Natal, do Nascimento do menino Jesus, que através das escrituras nos diz que nasceu num estabulo e anos mais tarde deu a vida por nós.
Hoje olhamos à nossa volta e o que o que vemos? Correria aos grandes centros comerciais, os encontrões, passamos uns pelos outros e nem nos conhecemos, muitas vezes damos prendas que as pessoas que recebem nadam ligam, nos dias seguintes bem a angustia, pois o dinheiro foi embora e em muitas casas não há que comer. Gere-se as discussões e do Natal já ninguém se lembra. Quem se lembra que nessa noite tantos estão a passar fome?
Meus caros leitores o que os meus pais me transmitiram é que o Natal é família, não interessa as prendas ou o que comemos, mas sim as conversas e a união em família nos fazem crescer e ter forças para enfrentarmos os dias difíceis que estamos a viver.

Espero que gostem do meu conto que hoje aqui deixo só uma parte do mesmo e daqui a uns dias publicarei o resto.
____________________________________________________________________
“A BONECA DE MARIA”
I Parte
Era uma vez uma menina chamada Maria que vivia nas serrarias do Centro deste País com os pais e quatro irmãos.

Desde pequenina que ouvia falar do Natal, do Menino Jesus, que nasceu em Belém nos Reis Magos e na estrela que vinda do oriente anunciou o nascimento do menino Jesus.
Acreditava que ele trazia prendas e as deixava nos sapatinhos das crianças que na véspera de Natal à noite os colocassem na chaminé, para que na manhã seguinte elas fossem buscá-las.

Todos os anos Maria, esperava ansiosamente pela noite de Natal, noite santa, noite em que toda a família se juntava de um modo muito especial, como se estivesse mais unida e feliz por ser aquela em que o Menino Jesus novamente descia à terra.

Quando se aproximava o Natal dizia para os irmãos e os amigos:
Este ano vai haver neve, é tão bonita a neve!

Todos os dias, quando chegava da escola ela ia para o monte com as ovelhas e pedia olhando para o céu:

- Menino Jesus, traz algumas prendas para mim, para os meus irmãos e para todos os meninos da aldeia pois somos pobres e não temos ninguém que nos dê prendas. Só a tua bondade poderá dá-las, e não te esqueças dos meninos de todo o mundo.

No primeiro dia de Dezembro Maria fazia um presépio em sua casa. Como os pais não podiam comprar as imagens, ela fazias com pequenas coisas:
Pedras que ia buscar ao campo para construir a cabana para o menino com telhado de folhas de árvore secas, palhinhas que cortava para armar o berço do Menino Jesus; os Reis magos as casas e os moinhos fazia-os de bocadinhos de madeira que o pai lhe trazia da carpintaria onde trabalhava, o rio era representado por tiras das pratas dos chocolates que os pais lhe compravam de longe em longe, as ovelhas eram uns pedacinhos de lã que retirava do gado que apascentava.

Quando o presépio ficava pronta, Maria olhava-o encantada e pensava que podia haver presépios mais bonitos mas nenhum mais desejado e feito com tanto carinho. Então ajoelhava-se diante dele e pedia ao Menino Jesus a sua prenda: uma boneca que dissesse mamã, para ela brincar com as meninas suas vizinhas e amigas.

Na noite de Natal, já a escuridão avançava com frio e neve, jantava “ era a chamada Ceia de Natal”, com os pais e os irmãos: bacalhau com batatas e couves, filhós polvilhadas de açúcar e canela, tudo com um sabor raro, até as conversas alvoraçadas sobre tudo dos pequenos, que ainda hoje recorda.

Quando todos tinham acabado, a mãe juntava as mãos sobre a mesa e, como se continua-se a conversa, lembrava as pessoas da família que não estavam ali. Havia uns momentos de silêncio. Até as crianças se calavam, talvez pelo olhar terno, calmo que a mãe lançava sobre eles; e em seguida ela mencionava os pais, os amigos mais queridos.

A Mãe acabava por dizer lentamente:
- E não vamos esquecer o meu irmão João, tão meu amigo, que um dia abalou para a América, mas há-de voltar, conforme prometeu ao sair daquela porta.

O pai respondia que esse irmão nunca tornaria aquela aldeia pobre e perdida na serra, só mandava uma carta de longe em longe a dizer que estava bem, Tinha muito trabalho e enviava saudades para todos; Quanto ao regresso, nem uma palavra.
- Há-de voltar, que assim o prometeu, insistia a mãe.

Maria e os irmãos levantavam-se da mesa e iam aquecer-se em redor da lareira acesa;
Junto da chaminé faziam um carreirinho com farinha daí até à porta, para o Menino Jesus ao chegar visse melhor por aquela neve o caminho a seguir para pôr as prendas nos sapatinhos. Cansada e ensonada Maria foi para a cama.

Na manhã seguinte acordava cedo e corria com os irmãos para ver se dentro do seu sapatinho estava a boneca com que tanto sonhara; mas encontrava, ano após ano, umas meias ou uma camisola, porque o Menino Jesus era tão pobrezinho como ela e não lhe podia dar essa boneca: tinha que satisfazer todos os meninos naquela noite. Ela ficava triste, mas quando calçava as meias ou vestia a camisola sentia-as tão quentinhas que logo se esquecia da boneca que tinha pedido.

Tomava o pequeno-almoço e ia com os irmãos e os pequenos vizinhos à missa do Natal agradecer junto do presépio iluminado e colorido, com figuras e barro, as prendas que recebera; de volta a casa tinham de percorrer uns quatro quilómetros, voltavam cansados mas contentes porque em casa os esperava um almoço melhor que nos outros dias; carne assada no forno de lenha, filhós, aletria e arroz doce, todo cozinhado pela mãe e a tia para ela, e para a família que nesse dia se juntava para festejar o Natal.
Quando Maria já era crescida, a mãe e a tia ensinaram-lhe a fazer as suas bonecas: de trapos, com a boca, os olhos, as sobrancelhas bordadas com tanto primor que pareciam princesas.

Depois veio um outro Natal: frio e neve a anunciar que o Menino Jesus iria voltar com o saco cheio de prendas para as crianças. Mais uma vez Maria lhe pediu a boneca tão desejada.
Continua...




2 comentários:

  1. Gostei muito do teu conto de Natal, fez-me lembrar quando era miúdo, só que eu queria uma bola, isto misturado com algumas lágrimas.

    ResponderEliminar
  2. Podem-se contar montes de histórias de Soldados a progredir por terras angolanas, esta história não é inventada, não tem o sabor da sopa de Caripande do Lobo Antunes, mas aconteceu lá para esses lados, perto de Lumbala a Velha, claro que lhe coloco certos ingredientes, a pouca comida que levava a tropa portuguesa; a progressão feita durante quilómetros na chana, para que seja um hino de fraternidade que nos deve unir aos irmãos angolanos; Foi nesta altura de Natal, que rebentei uma mina anti-carro preparada para nos tirar a vida, enfim são contos de homens que nada valem para este País:
    UMA MARCHA
    -
    Vão os Palancas
    pelos matos fora
    e nas suas ancas
    dor a toda a hora!
    -
    leva cartucheira
    no seu cinturão
    e uma lancheira
    com pouco pão?
    -
    leva sua mochila
    com seu colchão
    e seguia em fila
    lá no seu pelotão!
    -
    e água à cintura
    a perna molhada
    e em certa altura
    a G3 levantada!
    -
    s'havia um alto
    naquela chana
    pisava no salto
    terra angolana!
    -
    à frente a Mata
    ai num desafio
    um palanca “ata”
    vida por um fio!
    -
    e no solo denso
    vê o arvoredo
    e suor no lenço
    limpa de medo!
    -
    vê uma clareira
    no meio da mata
    a ergue certeira
    p'ra qu'ela abata!
    -
    o palanca veloz
    sente um inferno
    e ouve uma voz
    do triste inverno
    -
    deixa que mágoa
    te apague a dor
    e deixa que água
    lave teu rancor!
    -
    um soldado preto
    vê em posição
    e eu lhe decreto
    não o mates não;
    -
    e dizendo urra
    em trémula voz
    vem pobre “turra”
    juntar-se a nós!
    -
    Eugénio dos Santos

    ResponderEliminar